Influenciadora depõe na CPI das Apostas Esportivas e adota narrativa emocional para se defender
A influenciadora Virgínia Fonseca, um dos rostos mais populares da internet brasileira, compareceu nesta semana à CPI das Apostas Esportivas (CPI das Bets) para prestar esclarecimentos sobre sua participação em campanhas publicitárias de casas de apostas. O depoimento, amplamente repercutido nas redes sociais e na imprensa, foi marcado por uma postura emocional, referências à maternidade e uma retórica cuidadosamente construída para afastar qualquer associação direta com práticas ilegais.
Virgínia, que soma dezenas de milhões de seguidores, negou ter qualquer vínculo com manipulações de resultados e afirmou desconhecer irregularidades nas plataformas com as quais firmou contratos publicitários. Disse que seu papel foi exclusivamente como influenciadora, contratada para divulgar marcas, e que todo o conteúdo promovido estava dentro da legalidade vigente à época.
Choro, filhos e o uso calculado da imagem pública
Durante o depoimento, a influenciadora chorou ao citar suas filhas e afirmou que jamais colocaria sua família em risco. O discurso foi interpretado por analistas políticos como uma tentativa clara de humanização e apelo emocional, numa estratégia comum a celebridades em apuros. A imagem da maternidade — frequentemente associada à pureza e à responsabilidade — funcionou como escudo diante das perguntas mais incisivas dos parlamentares.
A cena, digna de um reality show, evidenciou como a cultura do espetáculo contaminou o ambiente político, fazendo da CPI um palco onde emoção e performance ganham mais destaque que dados técnicos ou provas concretas. Parlamentares da oposição chegaram a questionar a utilidade da convocação, alegando que o foco deveria estar nos operadores do sistema de apostas e não em influenciadores contratados.
Estratégia de blindagem e influência política
Segundo colunistas e juristas ouvidos pela imprensa, Virgínia demonstrou assessoria jurídica e midiática bem estruturada, evitando contradições e mantendo o foco na sua função como divulgadora, sem envolvimento com a gestão ou estrutura dos sites investigados. Especialistas apontam que o uso de uma narrativa emocional, ancorada na maternidade, foi uma tática inteligente para desviar o foco do conteúdo investigado e reforçar a ideia de que ela própria é uma vítima do sistema.
Nas entrelinhas, o depoimento também revelou a força que os influenciadores digitais têm hoje no jogo político. O simples fato de uma criadora de conteúdo sentar-se diante de uma comissão parlamentar revela a interseção cada vez mais evidente entre celebridade, economia digital e política institucional.
O papel das apostas e a banalização da CPI
A CPI das Bets foi criada para investigar possíveis esquemas de manipulação de resultados em jogos de futebol e o envolvimento de plataformas de apostas esportivas com influenciadores, atletas e dirigentes. A convocação de Virgínia, embora midiática, levantou críticas por transformar a comissão em um espetáculo mais voltado para o engajamento do que para a responsabilização real.
Enquanto o país aguarda nomes graúdos do setor, como dirigentes de clubes e executivos das casas de apostas, o depoimento da influenciadora reforça uma tendência: as CPIs se tornaram também palcos de cultura pop, onde a política e o entretenimento se misturam a ponto de serem quase indistinguíveis.