A orla de Fortaleza vai passar por uma transformação marcante. O tradicional Seara Praia Hotel, que funcionou por quatro décadas na Avenida Beira-Mar, começou a ser demolido neste mês de agosto. A demolição, que deve durar cerca de dez meses, abrirá espaço para o Mansão Seara, um edifício residencial de 50 andares e 172 metros de altura, considerado um dos maiores empreendimentos já aprovados na capital cearense.
Demolição sem implosão
O Seara, de 25 andares, será demolido por etapas, em um processo mecânico e manual. A empresa responsável, Magalhães Demolição, informou que usará escavadeiras, guindastes e rompedores de longo alcance para desmontar a estrutura com segurança. O prédio será todo telado e receberá bandejas de proteção, evitando queda de detritos. A promessa é de que não haja bloqueio no trânsito da região. Além disso, parte do entulho será reaproveitada, reduzindo o impacto ambiental da obra.
Mansão Seara: altura acima do Plano Diretor
O novo empreendimento chama atenção pelo tamanho: 74 apartamentos de 350 m², oito lajes exclusivas de 661 m², heliponto e vista panorâmica de 180° para a orla. O projeto, no entanto, ultrapassa o limite de altura permitido pelo Plano Diretor de Fortaleza, que restringe construções a 72 metros.
A autorização foi viabilizada pelo instrumento de Outorga Onerosa de Alteração de Uso, mecanismo previsto no Estatuto da Cidade que permite ultrapassar limites de construção mediante pagamento de contrapartida ao município. No caso do Mansão Seara, o valor pago foi de mais de R$ 39 milhões.
Especialistas alertam para impactos
Urbanistas apontam que esse tipo de flexibilização abre uma “brecha” na legislação e pode agravar desigualdades. Para o arquiteto e pesquisador da UFC, Marcelo Capasso, o risco é transformar o espaço urbano em um produto restrito a quem pode pagar. Ele também alerta para impactos no trânsito, circulação de ventos e aumento da segregação socioespacial na orla.
Além disso, a substituição de hotéis por residenciais de alto padrão pode alterar a dinâmica turística e imobiliária da região, atraindo apenas consumidores de alto poder aquisitivo.
Revisão do Plano Diretor
Enquanto o prédio de luxo avança, Fortaleza revisa seu Plano Diretor. Entre as propostas, está a ampliação de áreas verdes protegidas em mais de 60%. Especialistas defendem que o debate seja ampliado para incluir os impactos sociais e ambientais de grandes construções na orla.
A demolição do Seara marca o fim de um ciclo histórico na Beira-Mar e abre espaço para um futuro que gera entusiasmo em parte do mercado, mas também levanta questionamentos sobre os rumos do planejamento urbano da capital cearense.
