Endêmica da Serra de Maranguape, no Ceará, a rãzinha-de-Maranguape (Adelophryne maranguapensis) está à beira da extinção. Com ocorrência exclusiva no Pico da Rajada, esse pequeno anfíbio corre contra o tempo: além das ameaças ambientais que enfrenta, há o risco de desaparecer antes mesmo que a ciência consiga explorar os potenciais benefícios de sua pele, que podem incluir propriedades farmacêuticas valiosas.
Pesquisadores cearenses vêm alertando para a situação crítica da espécie, que atualmente é classificada como “criticamente em perigo” tanto pela lista nacional quanto pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Entre os principais fatores de ameaça estão a destruição do habitat natural e a presença de fungos patogênicos, como o Batrachochytrium dendrobatidis, conhecido por provocar declínios populacionais em anfíbios ao redor do mundo.
Durante seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Sistemática, Uso e Conservação da Biodiversidade (PPGSis) da Universidade Federal do Ceará (UFC), o pesquisador Victor Lucas Morais Rodrigues fez descobertas importantes. Uma delas foi a identificação de um microrganismo inédito na pele da rãzinha, o que abre portas para pesquisas futuras sobre compostos bioativos com potencial uso em áreas como saúde e biotecnologia.
Contudo, a urgência não é apenas científica, mas também conservacionista. O foco atual da pesquisa está em mapear com precisão a população remanescente da espécie, combater o fungo ameaçador e proteger seu habitat, ainda restrito a uma região de floresta úmida cercada por pressões urbanas e atividades humanas.
O trabalho de Victor Lucas recebeu recentemente um impulso importante: financiamento da Rufford Foundation, entidade britânica dedicada a apoiar iniciativas de conservação da biodiversidade em todo o mundo. O reconhecimento reforça a importância da pesquisa não apenas para a comunidade científica, mas para o patrimônio ambiental do Ceará.
A rãzinha-de-Maranguape representa mais do que uma raridade biológica: ela simboliza o risco que muitas espécies enfrentam ao desaparecerem antes mesmo de serem plenamente conhecidas. E, em tempos de crise ambiental, ela também reforça uma pergunta urgente: quantas outras espécies com potencial científico e ecológico estamos perdendo em silêncio?