Primeiras mulheres diplomadas no Ceará: Odete Meneses e Henriqueta Galeno abriram caminho na universidade

História da educação mostra que a presença feminina no ensino superior foi conquistada com muitas barreiras

O ingresso das mulheres no ensino superior no Brasil foi autorizado apenas em 1879, por meio do Decreto nº 7.247, que permitiu a matrícula feminina nas faculdades, mas ainda com restrições, como a exigência de espaços separados nas aulas. A primeira brasileira a se diplomar foi Rita Lobato de Freitas, formada em Medicina na Bahia em 1887.

No Ceará, esse avanço ocorreu quase 40 anos depois, no início do século XX, quando as primeiras mulheres ingressaram na Faculdade de Direito. Em 1914, duas cearenses foram pioneiras: Odete Correia de Meneses e Henriqueta Galeno, que colaram grau em 1919, tornando-se as primeiras universitárias diplomadas do Estado.

Faculdade de Direito e o pioneirismo feminino

A Faculdade de Direito do Ceará foi instalada em 1903, no prédio que hoje abriga o Museu do Ceará. Ela representava a primeira formação superior reconhecida no Estado, antes mesmo da criação oficial da Universidade Federal do Ceará (UFC), em 1954.

Nos registros da turma de 1914, descritos pelo historiador Raimundo Girão e preservados no Memorial da UFC, constam 99 alunos matriculados, entre eles as duas jovens pioneiras. A conclusão do curso se deu em meio à pandemia de gripe espanhola, o que levou o Governo a flexibilizar os exames finais. Ainda assim, ao menos uma das universitárias optou por realizar as provas, demonstrando empenho em consolidar sua formação.

Quem foram as pioneiras

Sobre Odete Meneses, pouco se sabe além das fichas históricas e do retrato poético feito por seu colega de turma, o escritor Irineu Filho, que destacou seu comportamento discreto e reservado. Ela iniciou os estudos em maio de 1914 e colou grau em janeiro de 1919, sendo a primeira mulher efetivamente diplomada no Ceará.

Já Henriqueta Galeno tem trajetória mais conhecida. Filha do poeta Juvenal Galeno, foi escritora, professora do Liceu do Ceará e da Escola Normal, além de integrar a Academia Cearense de Letras. Também fundou e dirigiu a Casa de Juvenal Galeno, importante espaço cultural de Fortaleza. Henriqueta ingressou no curso em 1914 e concluiu sua graduação em abril de 1919.

Legado e representatividade

Essas duas mulheres abriram caminhos em um período em que o espaço feminino ainda era restrito à esfera doméstica. Mais de um século depois, a presença das mulheres na universidade é consolidada, embora ainda marcada por desafios de representatividade em determinadas áreas e cargos acadêmicos.

Relembrar a história de Odete e Henriqueta é reconhecer que a educação superior feminina no Ceará foi construída com coragem, resistência e pioneirismo. Graças a elas, as portas da universidade se abriram para milhares de outras mulheres que hoje seguem ocupando espaços na ciência, na docência e nas mais diversas profissões.

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