Ex-trabalhadores de mina de urânio em Santa Quitéria relatam câncer após exposição

Pesquisa aponta risco de radiação durante escavações na década de 1970; projeto segue buscando licença ambiental

Um estudo recente reacende o alerta sobre os impactos do Projeto Santa Quitéria, que visa explorar urânio e fosfato no sertão do Ceará. Embora o empreendimento nunca tenha entrado em operação, trabalhadores que atuaram nas escavações na década de 1970 relataram sintomas e desenvolveram doenças graves, como o câncer, após a exposição à radiação.

A denúncia faz parte de uma pesquisa acadêmica desenvolvida pelo biólogo sanitarista Rafael Dias de Melo, da Universidade Federal do Ceará (UFC), que aponta falta de proteção e informação aos operários que abriram galerias subterrâneas na jazida de Itataia, em Santa Quitéria.

Exposição sem proteção adequada

Segundo os relatos, os operários trabalhavam sem equipamentos de segurança, moíam toneladas de rochas radioativas e ingeriam alimentos cultivados com água retirada das galerias. Muitos apresentaram coceiras na pele e, anos depois, surgiram casos de câncer entre eles e seus familiares.

O local foi alvo da Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH), que identificou níveis de radiação superiores aos limites permitidos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). A entidade recomendou inclusive uma possível ação judicial por danos à saúde e ao meio ambiente.

Impactos ainda preocupam moradores

Apesar da ausência de atividades recentes, o medo de vazamentos radioativos e de insegurança hídrica ainda preocupa moradores da região. O Projeto Santa Quitéria (PSQ) é atualmente um consórcio entre a INB (Indústrias Nucleares do Brasil) e a Galvani Fertilizantes, e segue buscando licença prévia junto ao Ibama para retomar as operações.

Em nota, o PSQ afirma que todas as atividades seguiram os padrões de segurança da época, e que não há operação ativa nas galerias atualmente. Já o gerente de licenciamento da Galvani, Christiano Brandão, reforçou que a tecnologia atual garante segurança para trabalhadores e moradores.

Construindo um passado silenciado

O estudo da UFC, iniciado em 2023, busca agora identificar vínculos diretos entre as mortes por câncer e a exposição ao urânio. Ao todo, cerca de 700 trabalhadores atuaram na fase inicial da exploração, muitos de forma informal, vindos de assentamentos rurais próximos.

A pesquisa quer revelar o que chama de “passado silenciado”, onde trabalhadores rurais, sem conhecimento dos riscos, foram expostos a níveis perigosos de radiação, sem que até hoje alguém tenha sido responsabilizado.

Compartilhe
Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Visão geral da privacidade

Este site utiliza cookies para que possamos lhe proporcionar a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.