Em depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, expôs em detalhes a pressão sofrida por integrantes das Forças Armadas para aderirem a uma tentativa de golpe de Estado após o segundo turno das eleições de 2022. As revelações — feitas no âmbito das investigações que apuram a trama golpista durante o governo de Jair Bolsonaro — colocam em xeque o discurso de neutralidade das Forças e expõem os bastidores de uma crise institucional sem precedentes na democracia brasileira recente.
O general, que ocupou o cargo entre março de 2022 e janeiro de 2023, apresentou aos investigadores uma linha do tempo clara dos movimentos antidemocráticos que se intensificaram dentro do Palácio do Planalto, apontando inclusive nomes e estratégias debatidas nos bastidores.
1. Pressão direta por um golpe
Segundo Freire Gomes, o então presidente Jair Bolsonaro pressionou, de forma insistente, os chefes militares a apoiarem uma ruptura institucional. O general revelou que foi chamado para reuniões privadas onde Bolsonaro cogitava abertamente a decretação de estado de sítio, a prisão de ministros do STF e a anulação do resultado das urnas.
Ele afirmou que resistiu a todas as investidas e comunicou ao Alto Comando do Exército que não compactuaria com qualquer movimento fora da Constituição. Sua negativa teria sido fundamental para frear a adesão institucional a qualquer plano de ruptura.
2. Participação de auxiliares próximos
Freire Gomes também apontou que figuras do entorno do ex-presidente, incluindo assessores do chamado “gabinete do ódio”, ministros militares e até empresários aliados, participaram de reuniões e articulações golpistas. O objetivo era criar um ambiente de instabilidade que justificasse uma intervenção militar sob pretexto de “salvar o país”.
Nomes como o general Augusto Heleno e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, teriam sido citados como parte do grupo que discutia as medidas inconstitucionais.
3. A resistência do Exército
O general destacou que, apesar das pressões, o Exército se manteve institucionalmente coeso em torno da legalidade. Freire Gomes relatou que manteve comunicação constante com outros generais da ativa e da reserva, buscando isolar os focos de instabilidade e impedir que ideias golpistas ganhassem adesão ampla nas tropas.
Ele também disse que alertou os outros comandantes militares sobre o risco de envolvimento das Forças em uma aventura política, o que poderia comprometer a estabilidade da República por anos.
4. A blindagem ao Planalto
Uma das revelações mais simbólicas foi a descrição de como Bolsonaro tentou blindar o Palácio do Planalto, tanto fisicamente quanto politicamente, esperando que as Forças Armadas criassem um “cordão de proteção institucional”. O objetivo seria evitar prisões e impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Freire Gomes afirmou que se recusou terminantemente a atender qualquer pedido de mobilização nesse sentido, e que alertou a Presidência de que o Exército não seria instrumento de golpe.
5. O silêncio que virou ruído
Apesar de manter silêncio público desde que deixou o cargo, Freire Gomes vinha sendo pressionado por setores da opinião pública e das instituições para depor. Sua fala agora torna-se uma peça-chave nas investigações conduzidas pelo ministro Alexandre de Moraes e pode embasar denúncias formais contra Bolsonaro e aliados.
