A poluição do Rio Cocó, um dos principais corpos hídricos de Fortaleza, está provocando casos de anemia moderada a severa em peixes da região, segundo um estudo alarmante conduzido pelo Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC). A pesquisa, que investigou os impactos ambientais da contaminação urbana, revela que mais de 75% dos peixes analisados apresentaram alterações significativas nos níveis de hemoglobina e hematócrito — indicadores típicos da anemia.
A espécie mais afetada foi a carapeba (Eugerres brasilianus), comum no consumo popular e utilizada como biomonitor no estudo. A pesquisa foi realizada no contexto do projeto “Assessing the environmental health of urbanized mangroves on the Brazilian Equatorial Margin using widely consumed biomonitors (Ceará coast, Brazil)”, com financiamento internacional e coordenação local do professor Rivelino Cavalcante.
Entre os 59 poluentes investigados nos manguezais do entorno do Rio Cocó, foram identificados:
- 48 poluentes em peixes,
- 33 em crustáceos,
- 43 em moluscos.
Os contaminantes incluem desde resíduos sólidos e esgoto doméstico até fármacos, agrotóxicos e compostos industriais.
A pesquisa aponta que a anemia nos animais é provocada por três fatores principais:
- Deficiências nutricionais,
- Infecções parasitárias,
- Exposição a contaminantes tóxicos.
Além de comprometer a saúde dos peixes, a anemia afeta sua capacidade reprodutiva, mobilidade e sobrevivência, o que pode levar à redução drástica da fauna aquática no Rio Cocó — com consequências diretas para o equilíbrio ambiental e a segurança alimentar das populações que consomem esses animais.
Segundo Rivelino Cavalcante, a situação é reflexo do descontrole na gestão pública dos resíduos sólidos e líquidos na capital. Ele alerta: “A poluição é o resultado direto da ausência de planejamento e da falta de investimentos no tratamento adequado dos resíduos urbanos. Enquanto isso, o ecossistema adoece — e silenciosamente nos devolve o impacto.”
O estudo reforça o apelo por ações urgentes de recuperação ambiental e políticas públicas efetivas para proteger os rios urbanos. Para os pesquisadores, o caso do Cocó é um alerta para Fortaleza e demais cidades brasileiras sobre os limites da negligência com o meio ambiente.