A Polícia Federal ouviu nesta segunda-feira (15) o atual e o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) como parte da investigação que apura o uso indevido de sistemas de monitoramento para espionagem ilegal de autoridades, jornalistas e opositores políticos. A oitiva faz parte da nova fase da operação que mira suspeitas de violação de sigilo e abuso de poder por parte de integrantes do órgão.
O atual diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, e o ex-diretor, Alexandre Ramagem — hoje deputado federal —, foram intimados para prestar esclarecimentos sobre o uso da ferramenta FirstMile, um software com capacidade de rastrear, em tempo real, a localização de dispositivos móveis por meio de dados de antenas de telefonia.
Segundo as investigações, o sistema teria sido operado à margem da legalidade durante parte do governo anterior, sem autorização judicial, para monitorar alvos políticos e servidores públicos. A Abin, sob nova gestão, afirma estar colaborando com as investigações e apurações internas.
A defesa de Ramagem nega qualquer irregularidade e afirma que o parlamentar jamais autorizou ou teve conhecimento de qualquer operação ilícita durante seu período à frente da agência.
A operação da PF tem como foco o suposto uso político da Abin, algo que levanta preocupações sobre a instrumentalização de estruturas de Estado para fins de espionagem doméstica — prática que fere diretamente os princípios constitucionais do serviço público e a garantia de direitos individuais.
A investigação segue sob sigilo, mas fontes indicam que novos depoimentos devem ser colhidos nos próximos dias, incluindo ex-assessores e agentes de inteligência. A expectativa é que os desdobramentos possam atingir outras esferas do antigo governo, a depender das provas coletadas.
O caso reacende o debate sobre a necessidade de maior controle institucional e transparência sobre os órgãos de inteligência, além da revisão de protocolos de acesso a tecnologias de rastreamento e monitoramento de cidadãos.