O transporte público de Fortaleza passa por um momento de grande instabilidade. Em apenas uma década, o número de passageiros caiu mais da metade, e a crise financeira das empresas de ônibus levou à suspensão repentina de 25 linhas na capital cearense, afetando milhares de usuários que dependem do serviço diariamente.
Queda drástica no número de passageiros
Segundo dados do Sindiônibus, Fortaleza tinha em 2015 cerca de 1,15 milhão de usuários diários. Hoje, esse número caiu para aproximadamente 520 mil passageiros, uma redução de 54,7%. Para especialistas, a diminuição está relacionada a novos hábitos de deslocamento, ao aumento do uso de motocicletas, aplicativos de transporte e bicicletas, além da pandemia de Covid-19, que acelerou a mudança no perfil da mobilidade urbana.
Redução da frota e envelhecimento dos veículos
Na tentativa de equilibrar o sistema, o número de ônibus circulando também caiu. Em 2015, eram 1.904 veículos; atualmente, são apenas 1.150 ônibus em operação, o que representa quase 40% de redução. Essa medida impactou diretamente a idade média da frota, que passou de 4 para 8 anos de uso, refletindo em menos conforto e mais problemas mecânicos durante as viagens.
Fatores econômicos e sociais
De acordo com especialistas da UFC e Unifor, o desemprego elevado durante a pandemia reduziu ainda mais a demanda, já que menos pessoas precisaram se deslocar diariamente para trabalho e estudo. Embora o índice de desemprego tenha melhorado em 2025, o sistema ainda enfrenta forte concorrência de transportes alternativos. Além disso, o aumento nas vendas de motocicletas e a popularização de aplicativos como Uber e 99 atraíram passageiros que antes dependiam exclusivamente do transporte coletivo.
Suspensão de linhas e impacto nos usuários
A decisão das empresas de ônibus de suspender 25 linhas e reduzir a frota em outras 29 pegou passageiros de surpresa. Muitos trabalhadores e estudantes relataram dificuldades para chegar ao destino, enfrentando longas esperas e ônibus superlotados. O Sindiônibus afirma que a medida foi indispensável para garantir o pagamento de salários e a manutenção mínima da operação, diante de um déficit mensal de cerca de R$ 9 milhões.
Já a Etufor, órgão da Prefeitura de Fortaleza, informou que não autorizou a suspensão das linhas e destacou que repassa mensalmente R$ 16 milhões em subsídios ao setor. O impasse abre espaço para um debate urgente sobre a necessidade de políticas públicas mais amplas de mobilidade, que envolvam União, estado e município.
Futuro do transporte coletivo em Fortaleza
Especialistas defendem que o transporte público deve ser tratado como política de inclusão social, com subsídios estruturados e investimentos em infraestrutura. Caso contrário, a crise tende a se aprofundar, ampliando as dificuldades para a população que depende diariamente do sistema.

