Uso de inseticidas ameaça segurança alimentar
Um estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC) revelou altos índices de agrotóxicos em peixes do Rio Poti, que corta os distritos de Oiticica e Ibiapaba, em Crateús. A pesquisa aponta que o consumo desses pescados pode estar relacionado ao desenvolvimento de doenças graves, como câncer, além de distúrbios hormonais e neurológicos. A descoberta preocupa comunidades tradicionais que dependem da pesca e da agricultura familiar para subsistência.
Comunidades em risco
Moradores relataram alterações nos olhos dos peixes, como vermelhidão, o que motivou o início da investigação. Para a professora aposentada Maria do Carmo, de 68 anos, residente em Oiticica, a notícia causa apreensão, já que a comunidade frequentemente consome peixes do rio. A região abriga apenas 17 famílias e já convive com dificuldades estruturais, como falta de saneamento básico e acesso limitado a serviços de saúde.
Resultados do estudo
A coleta, iniciada em 2023, analisou 47 exemplares de espécies como curimatã, bodó, tilápia e piau. As amostras apontaram a presença de piretróides, organoclorados e outros pesticidas, compostos associados a riscos cancerígenos, neurológicos e endócrinos. A ingestão diária de 150g de peixe contaminado por longos períodos pode aumentar significativamente o risco de doenças. Além disso, os pesquisadores identificaram necrose nos músculos dos animais, indicando impactos diretos na fauna aquática.
Fatores agravantes
O uso indiscriminado de pesticidas na agricultura não é a única causa do problema. A ausência de coleta de esgoto e descarte irregular de resíduos também contribuem para a poluição. As mudanças climáticas, com secas prolongadas e elevação da temperatura, intensificam a concentração de contaminantes no rio, ampliando a exposição de peixes e moradores.
Preocupação com saúde pública
De acordo com especialistas, a exposição crônica a agrotóxicos pode provocar perturbações endócrinas, déficits neurológicos, comprometimento renal e hepático, além de problemas reprodutivos. Pesquisadores reforçam que a segurança alimentar das comunidades tradicionais precisa ser prioridade em políticas públicas.
Caminhos para soluções
As pesquisadoras Ana Clara Rosendo e Isadora Brandão, autoras do estudo, destacam que não buscam culpados, mas soluções conjuntas. Elas defendem maior monitoramento ambiental e conscientização das comunidades locais e órgãos públicos. A UFC já repassou os resultados à prefeitura de Crateús e pretende ampliar as pesquisas para outros trechos do rio.
O desafio, segundo os estudiosos, é garantir a preservação do meio ambiente e a saúde das populações ribeirinhas, reforçando a necessidade de políticas urgentes contra a poluição por agrotóxicos no Ceará.

