A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros ameaça diretamente a economia cearense. Apesar da China ser o principal parceiro comercial do Brasil, os EUA lideram as compras do Ceará, representando mais da metade das exportações do estado no primeiro semestre de 2025.
Porto do Pecém e setor siderúrgico em alerta
Cinco dias após o anúncio, cerca de 20 contêineres ficaram retidos no Porto do Pecém, sinalizando os primeiros impactos. O principal produto cearense vendido aos EUA é o aço, que responde por 76,5% das exportações estaduais para o país. Só em 2024, o setor movimentou US$ 441 milhões para o mercado americano. Com a nova tarifa, a competitividade cai, podendo afastar importadores.
O Sindicato das Indústrias Metalúrgicas (SIMEC) estima que, a curto prazo, a siderurgia possa retrair 10%, afetando diretamente os 35 mil empregos do setor.
Risco para pescados e agropecuária
Os pescados são o segundo produto mais exportado para os EUA, com US$ 52 milhões em vendas em 2024. O setor emprega mais de 20 mil pessoas, sem contar a cadeia de apoio. Segundo o Sindfrio, 100% dos peixes costeiros vendidos pelo Ceará vão para o mercado americano, o que torna difícil substituir compradores rapidamente.
Na agropecuária, produtos como castanha de caju, água de coco e cera de carnaúba também têm forte dependência dos EUA. A Faec alerta que mais de um terço das exportações do agro cearense vai para esse mercado.
Diversificação de mercados: desafio no curto prazo
Economistas e entidades como a Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) defendem buscar novos mercados, mas reconhecem que abrir rotas comerciais leva tempo. Para produtos como sucos e calçados, a adaptação pode ser mais rápida; já para a siderurgia, a substituição de clientes é complexa.
Em 2024, apesar de ser proporcionalmente o mais dependente dos EUA, o Ceará foi apenas o 12º maior exportador brasileiro para aquele país, com US$ 669 milhões vendidos.
Governo e setor privado buscam soluções
O Governo do Ceará afirma estar em diálogo com empresários para adotar medidas que mantenham a competitividade e protejam empregos. A Fiec, por sua vez, propõe negociações diplomáticas e apoio emergencial aos setores mais atingidos.
Para o economista João Mário de França, identificar rapidamente os setores mais prejudicados é crucial para criar linhas de crédito e incentivos fiscais que minimizem o impacto imediato das tarifas.