Águas escuras após chuva voltam a preocupar população e órgãos ambientais
Após as chuvas intensas que atingiram Fortaleza entre os dias 28 e 29 de junho, manchas escuras voltaram a aparecer no mar, especialmente nas regiões do Mucuripe e próximo ao Espigão do Náutico. A coloração anormal da água chamou a atenção de moradores e turistas, reacendendo o debate sobre a qualidade da balneabilidade e a responsabilidade pela poluição.
De onde vem a sujeira?
Segundo a Prefeitura de Fortaleza, o escurecimento das águas está ligado ao arraste de resíduos, sedimentos e areia pelas galerias pluviais. A Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) destaca que esses resíduos são levados pelas chuvas das ruas até os pontos de deságue, mas reforça que não há confirmação de lançamento direto de esgoto.
Contudo, especialistas como o professor Michael Viana, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar/UFC), apontam que a água pode conter resíduos de esgoto clandestino acumulados durante o período seco, que são arrastados pelas chuvas intensas. Ele afirma que, mesmo sem ligação direta com o esgoto, a água pluvial carrega matéria orgânica e poluentes que comprometem a balneabilidade.
Dados preocupantes e investigações em curso
Conforme boletins da Semace, os pontos analisados no Mucuripe e Meireles foram classificados como impróprios para banho em diversas ocasiões ao longo de 2025. O Ministério Público do Ceará (MPCE) já investiga casos recorrentes de poluição na orla, incluindo o Riacho Maceió, com base em denúncias de despejo irregular de esgoto por imóveis residenciais e comerciais.
A promotora Ann Celly Sampaio destaca que o problema é histórico e multifatorial, e que diversas gestões já foram cobradas sem soluções definitivas. O despejo irregular é crime ambiental, segundo a Lei 9.605/98, sujeitando os responsáveis a multas e até reclusão.
O que está sendo feito?
A Prefeitura informou que realizou limpezas no Riacho Maceió e firmou um termo de cooperação com Cagece e Ambiental Ceará para fiscalizar ligações irregulares de esgoto. Em 2025, mais de 2 mil imóveis foram vistoriados na orla da capital.
Mesmo assim, especialistas cobram medidas mais efetivas, como tratamento da água pluvial antes do lançamento no mar e plano de ação integrado entre os órgãos. A arquiteta Marília Noleto destaca que, mesmo sem esgoto, a água das chuvas carrega poluentes e deve ser tratada.
