Lula propõe “quitação histórica” com África por meio de tecnologia agrícola brasileira

Durante discurso na cúpula de chefes de Estado da União Africana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs nesta terça-feira (21) uma forma simbólica e pragmática de “pagar a dívida histórica” do Brasil com o continente africano: a transferência de tecnologia agrícola e a cooperação no desenvolvimento rural.

A fala do presidente reacende o debate sobre os laços do Brasil com a África, muitas vezes lembrados apenas por sua origem colonial, mas que Lula pretende reposicionar como uma relação de parceria estratégica — com ênfase em soberania alimentar, conhecimento técnico e desenvolvimento sustentável.

A agricultura como ponte de reparação

Segundo Lula, o Brasil não pode ignorar a dívida social, histórica e cultural com o povo africano, marcada por séculos de escravidão. Mas, ao invés de se limitar ao discurso simbólico, o presidente defendeu que a contribuição brasileira venha na forma de apoio técnico e investimentos em tecnologia de produção agrícola tropical, área em que o país se tornou referência mundial.

“O Brasil é o país com maior expertise em agricultura tropical. Queremos compartilhar isso com nossos irmãos africanos. Essa é uma forma concreta de retribuir o que a história nos tirou”, afirmou Lula em discurso firme, aplaudido por representantes de diversos países africanos.

A proposta inclui cooperação com órgãos como a Embrapa, envio de especialistas, intercâmbio de estudantes africanos em universidades agrícolas brasileiras e a criação de centros de pesquisa compartilhados.

Soberania alimentar no centro da diplomacia

A proposta de Lula chega em um momento em que muitos países africanos enfrentam crises alimentares, agravadas por conflitos regionais, mudanças climáticas e dependência de importações. Para o presidente, ajudar esses países a desenvolverem sua própria produção de alimentos é uma questão de justiça global e também de geopolítica.

“A fome é o maior inimigo da liberdade. Um povo que depende da comida do outro não é soberano”, declarou.

Lula tem buscado reposicionar o Brasil como líder do Sul Global, investindo na reaproximação com países da África, da América Latina e da Ásia. A cooperação agrícola, segundo ele, deve substituir a velha lógica de “ajuda externa” por uma nova diplomacia da partilha tecnológica.

Repercussão e críticas

A proposta foi bem recebida por lideranças africanas, que veem no Brasil um exemplo de sucesso em desenvolvimento agrícola em climas similares. No entanto, setores da oposição interna já reagiram à fala, acusando Lula de “usar a África como palanque internacional” e “ignorar os problemas do campo brasileiro”.

Analistas internacionais, por outro lado, veem a proposta como um movimento inteligente de soft power: fortalecer relações internacionais com base em conhecimento, e não em armas ou dinheiro.

No palco global, o Brasil volta a se apresentar como parceiro estratégico — e não como potência colonizadora —, buscando transformar dívida histórica em colheita futura compartilhada.

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