O Ministério da Previdência Social ganhou um novo titular nesta sexta-feira (2), mas não exatamente um novo começo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou o ex-deputado Wolney Queiroz (PDT-PE) para substituir Carlos Lupi, que pediu demissão após uma sequência de desgastes públicos e a revelação de um suposto esquema bilionário de fraudes no INSS.
O novo ministro assume sob o peso de explicações passadas e um olhar desconfiado sobre o futuro.
Lupi pula fora para evitar desgaste
Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT e um dos aliados de primeira hora de Lula, entregou o cargo em meio à repercussão da Operação Sem Desconto, que investiga um esquema de descontos indevidos em benefícios de aposentados. A estimativa é de que o rombo chegue a R$ 6,3 bilhões — o que, para um ministério que cuida da aposentadoria de milhões de brasileiros, não é exatamente um detalhe.
Em nota, Lupi disse que sua decisão foi para “preservar o governo”, garantindo que não teve seu nome citado. Mas, diante de uma pesquisa AtlasIntel que mostrava oito em cada dez brasileiros pedindo sua saída, o gesto soou menos como lealdade e mais como cálculo político.
O escolhido da casa
Natural de Caruaru, Wolney Queiroz não chega como forasteiro. Filiado ao PDT há mais de 30 anos, foi deputado federal por seis mandatos e ocupava, até então, a secretaria-executiva da Previdência, ou seja, era o número dois da pasta.
Durante o governo Bolsonaro, foi líder da oposição na Câmara, mas agora terá a missão de blindar o ministério contra escândalos internos e reconquistar a confiança da população — tarefa que não se resolve com discursos de posse.
Um passado que incomoda
O novo ministro carrega no currículo um detalhe incômodo: ele foi um dos coautores de uma emenda aprovada em 2021 que afrouxou os controles sobre os descontos nos benefícios do INSS. A norma ampliou o prazo para revalidação de autorizações de 1 para 3 anos — uma brecha que, segundo analistas, contribuiu diretamente para o esquema que agora é investigado.
Se antes era só um detalhe técnico em um parágrafo de emenda, agora virou munição política. A oposição já se mobiliza para convocá-lo ao Congresso, e até dentro do PDT a nomeação causou desconforto. O ex-ministro Ciro Gomes, por exemplo, publicou que está “envergonhado com a indicação”.
Troca para manter o equilíbrio?
Apesar da tensão, a escolha de Wolney tem um objetivo claro: manter a cadeira com o PDT e evitar um desgaste maior com o partido. O governo busca estabilidade política, mas a aposta em um nome tão próximo do núcleo que está sendo investigado pode se transformar em um novo foco de crise.
No xadrez de Brasília, às vezes uma substituição parece solução, mas vira mais um lance arriscado no tabuleiro.