Gasolina a R$ 6,49 em quase todos os postos de Fortaleza levanta suspeita sobre livre concorrência

Um fenômeno incomum e, no mínimo, curioso tem chamado atenção dos consumidores e especialistas em economia nas últimas semanas em Fortaleza: a uniformização quase total do preço da gasolina comum nos postos da capital. Em um cenário que deveria ser marcado por competição, a prática tem levantado sérias dúvidas sobre a efetiva existência de livre concorrência no mercado de combustíveis local.

A equipe do Diário do Nordeste percorreu diversos bairros da cidade e encontrou praticamente o mesmo valor de R$ 6,49 por litro da gasolina comum em todos os postos visitados — um reajuste brusco que superou os R$ 0,80 em pouco tempo. A “coincidência” dos preços se estende inclusive aos centavos após a vírgula, o que gera estranheza e questionamentos sobre possível alinhamento indevido de valores entre os estabelecimentos.

As únicas exceções observadas pela reportagem foram dois postos isolados, um na Avenida Barão de Studart com Rua Júlio Siqueira e outro na Avenida Rogaciano Leite, onde o valor encontrado foi de R$ 6,47 — uma diferença simbólica, mas que revela o padrão dominante em quase toda a cidade.

Em mercados saudáveis, a variação de preços é considerada um sinal de concorrência ativa: postos que operam com custos diferentes, estratégias distintas e margens variadas normalmente oferecem preços diferenciados para atrair consumidores. Quando essa diversidade desaparece, surgem os indícios de um comportamento potencialmente anticompetitivo — ainda que não haja um acordo formalizado, o chamado “paralelismo consciente” pode ser caracterizado como prejudicial ao consumidor.

O episódio tem levantado preocupação entre entidades de defesa do consumidor e órgãos reguladores, que alertam para a necessidade de investigação sobre prática de cartel, conduta que fere a legislação brasileira e pode resultar em sanções severas aos envolvidos. Vale lembrar que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) já investigou casos semelhantes em outras regiões do país.

Antes do recente aumento, era comum encontrar variações significativas nos preços, com diferenças de até 30 centavos por litro entre diferentes bairros. Hoje, essa diversidade deu lugar a um preço fixo oficioso, que limita a escolha do consumidor e coloca em xeque os princípios do mercado livre.

Para o consumidor cearense, resta a frustração de pagar caro e não ter para onde correr. Enquanto isso, a pergunta que ecoa nas ruas de Fortaleza — e que merece atenção das autoridades — é simples e direta: combustível ou combinação?

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